quinta-feira, setembro 16, 2010

Bóris, o sagaz

Apesar de seu porte imponente, musculoso, forte e bonitão, Bóris vivia subjugado às grades e muros de seu lar. Sempre vendo a vida passar pelas frestas.

Mas ele tinha uma arma secreta: um cérebro. Escondido por trás de olhos meigos e atentos.

Bastou uma única oportunidade. E Bóris a agarrou com unhas e dentes (e babou nela toda).

Foi livre.

De peito aberto, correu contra o vento, ignorando os que passavam por ele.

Em silencioso triunfo, correu.

Exibindo seus músculos bem definidos, correu.

Sentindo as bochechas como flâmulas ao vento, correu.

Mas sentiu que a liberdade perdia o sentido a cada passada, e parou.

Naquela noite Bóris dormiu feliz, na segurança amurada do carinho de quem o mantém não preso, mas a salvo.

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Quando decidimos que queríamos um novo cachorrinho, optamos por um boxer. São cães inteligentes, concluímos.

Mas, assim, sagaz, não esperávamos.

Deixamos que ficasse sozinho. Na segurança do pátio fechado. Com portão eletrônico. Não adianta pular, morder, trompar. Sem controle, não abre.

Mas se o problema era usar o controle, ele deu um jeito. Por uma dessas coisas do "destino", o controle que deixamos na garagem caiu ao chão.

Chegamos em casa depois de algumas horas. O portão aberto, sem marcas de ter sido forçado. A casa intacta, fechada, alarme ligado. Nada do cachorro. Nada, nem sinal.

E o portão todo aberto.

Cada um sai pra um lado. Chamando. E se ele foi para a rodovia? Pode estar longe, pode estar esparramado em metros de víceras atropeladas, pode ter sido levado por alguém.

Na rua lateral, na de baixo, no parque residencial... por onde começar, onde há mais riscos? onde há mais chances?

Ele apareceu. À porta de um vizinho amigo. Ficou feliz de nos ver. Fez festa como se quisesse contar do seu triunfo. Correndo, faceiro, voltou pra casa.

Perto do capacho, encontramos o controle babado. Fim do mistério.


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