sexta-feira, setembro 24, 2010

Hunf!!!


- Que é mesmo que tu faz?

- Eu sou publicitária.

- Ah, sei - (cara de "faço a mínima")

- Hunf!

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- Olha, aquele busdoor fui eu que fiz!

- Mas que modelo feia, não tinha uma melhor?

- Eu não fiz as fotos, elas foram cedidas pela grife. Eu fiz o layout.

- Então o que tu fez? Imprimiu?

- Não, isso não é o meu trabalho, quem faz isso é uma outra empresa.

- Não sei pra quê as pessoas pagam vocês se elas podem ir direto nos caras que imprimem!

- Hunf!

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- Tu usa o photoshop, né?

- Sim, direto.

- Tu me ensina?

- Pra quê?

- Pra ajeitar umas fotos, tirar uns tremidos, ajeitar umas em que pisquei bem na hora... essas coisas.

- Mas não vale a pena tu aprender um programa tão complexo e técnico quanto o photoshop.
Quando tu fizer uma foto, faz vários disparos seguidos, assim, sempre vai poder escolher uma que ficou boa de foco e ninguém piscou.

- Que te custa? Só me ensina o básico...

- Eu precisaria ter mais tempo. E, de qualquer jeito, acho que não vale mesmo a pena pra ti. Gera arquivos pesados, e tem programinhas mais simples pra edição caseira de imagens...

- Ai, quanta má vontade.

- Hunf!

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- Meu tio tem uma loja. Aí ele quer fazer uma propagandas... Lembrei de ti.

- Que ótimo! Ó, ta aqui meu cartão, diz pra ele ligar lá pra agência que a gente marca uma reunião com o atendimento.

- Mas tu não quer fazer por fora? Pode tirar uns trocos!

- Não, ele, com certeza, vai estar melhor atendido com a estrutura da agência. Lá eu tenho melhores condições de trabalho, posso me dedicar melhor ao job. E tem uma equipe, entende? A empresa e a imagem da marca vão ser beneficiadas se houver um trato mais profissional.

- Mas que falta de visão! Tu tá muito acomodada! Tá precisando ser mais ambiciosa!

- Hunf!

quinta-feira, setembro 16, 2010

Bóris, o sagaz

Apesar de seu porte imponente, musculoso, forte e bonitão, Bóris vivia subjugado às grades e muros de seu lar. Sempre vendo a vida passar pelas frestas.

Mas ele tinha uma arma secreta: um cérebro. Escondido por trás de olhos meigos e atentos.

Bastou uma única oportunidade. E Bóris a agarrou com unhas e dentes (e babou nela toda).

Foi livre.

De peito aberto, correu contra o vento, ignorando os que passavam por ele.

Em silencioso triunfo, correu.

Exibindo seus músculos bem definidos, correu.

Sentindo as bochechas como flâmulas ao vento, correu.

Mas sentiu que a liberdade perdia o sentido a cada passada, e parou.

Naquela noite Bóris dormiu feliz, na segurança amurada do carinho de quem o mantém não preso, mas a salvo.

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Quando decidimos que queríamos um novo cachorrinho, optamos por um boxer. São cães inteligentes, concluímos.

Mas, assim, sagaz, não esperávamos.

Deixamos que ficasse sozinho. Na segurança do pátio fechado. Com portão eletrônico. Não adianta pular, morder, trompar. Sem controle, não abre.

Mas se o problema era usar o controle, ele deu um jeito. Por uma dessas coisas do "destino", o controle que deixamos na garagem caiu ao chão.

Chegamos em casa depois de algumas horas. O portão aberto, sem marcas de ter sido forçado. A casa intacta, fechada, alarme ligado. Nada do cachorro. Nada, nem sinal.

E o portão todo aberto.

Cada um sai pra um lado. Chamando. E se ele foi para a rodovia? Pode estar longe, pode estar esparramado em metros de víceras atropeladas, pode ter sido levado por alguém.

Na rua lateral, na de baixo, no parque residencial... por onde começar, onde há mais riscos? onde há mais chances?

Ele apareceu. À porta de um vizinho amigo. Ficou feliz de nos ver. Fez festa como se quisesse contar do seu triunfo. Correndo, faceiro, voltou pra casa.

Perto do capacho, encontramos o controle babado. Fim do mistério.