sábado, outubro 19, 2013

Verdade é como filho: cada um tem o seu.

 Almoço festivo. Maria, Antônia, Joselina e Griselda conversam em meio aos afazeres da cozinha. Com a algazarra que fazem bem se diria serem umas vinte mulheres, mas são apenas essas senhoras nomeadas.
O modo como seria preparada a salada gerou certa divergência. Joselina foi taxativa:
- Nada de temperos, a gente lava com cuidado as folhas de alface, descasca e corta o tomate e só.
- Que horror, Lina! Coisa bem sem gosto nenhum! Joga logo um fio de azeite de oliva que é bom pro coração! Minha Carol que disse.
- E o que tua filha sabe? Nunca cozinhou na vida, Antônia!
- A Carolina é a melhor aluna da faculdade de Nutrição! Sabe tudo e não precisa cozinhar pra isso. O outro dia um professor viu no currículo dela que ela tinha um curso especial de grãos integrais e queria que ela fosse pro laboratório dele trabalhar. Mas imagina! A professora, doutora não sei das quantas, quase enlouqueceu, não deixou a Carol ir. Tão brigando pela minha filha, tão boa ela é... vivem pedido coisas pra ela, colocando ela pra trabalhar nos projetos importantes... Ela é uma referência pros colegas.
- Parece o Luiz Roberto. O menino mal começou na veterinária tá lá fazendo cirurgia em boi! O pai tá todo orgulhoso. Dele, e do Dudu, que disse ontem que vai ser engenheiro.
- Mas, Maria, o próprio Luizinho me disse, semana passada, que só foi assistir à tal cirurgia.
- Então, Griselda! Foi o que eu disse, tá operando os bichos, já! E também faz o maior sucesso com os professores.
- Esse gurizada de hoje... Parece que já nascem sabendo mais que a gente. Mas eu vou levando essas saladas pra mesa.
- Espera, Lina! Não tá temperada!
- Não é pra temperar, deixa assim. O Carlinhos mandou eu baixar os temperos, disse que sal dá pressão alta, que a gordura do óleo entope as veias e sei lá mais o quê. Isso sem contar a quantidade de bactéria e micróbios que vem numa salada mal lavada, um perigo! Levo assim, e cada um põe o que achar melhor.
 E lá se foi Joselina com as vasilhas de salada. Quando voltou, o assunto eram os filhos brilhantes de cada uma.
- Então, Lina, teu filho tá trabalhando, já?
- Sim, o Carlinhos tem essa vocação de cuidar de gente. Tá trabalhando direto no posto perto de casa e nos fins de semana tira plantão em Capoira Alta, perto da casa da vó dele. Uma bênção esse menino, os pacientes adoram ele!
- Mas e os teus, Griselda? 
- Os meus filhos não são brilhantes. O João e a Mara, estudam um pouco, fazem festa com os colegas e de vez em quando pegam exame. São médios. Medíocres até. Mas vão se formar no tempo certo e vão ter um emprego decente. Acho que é isso que todos queremos para nossos meninos, né? 
 Foi como se ela tivesse dito uma coisa absurda, horrível, criminosa. 
 Mas era verdade, aliás, a única verdade completa que tinha sido dita naquela reunião. Para indignação das demais amigas, Griselda era super sincera.
E trocaram de assunto. Vai que Griselda começasse a falar verdades sobre os filhos delas também.