sábado, novembro 19, 2016

Eu tiNhA 13 AnOS

Eu tinha 13 anos. Parei no meio-fio, os pés paralelos, apontando para a avenida. À direita, a ladeira vinha do centro, à esquerda, se tornava plana e mais adiante reiniciava a inclinação. Eu estava no vale. Eu estava mesmo no fundo. Um ônibus vinha lá de cima, ninguém nas paradas da avenida, o motorista podia ver desde o alto que não teria que parar. Eu vi que ele descia rápido, aproveitando o embalo para subir o próximo trecho. Sem nenhuma dúvida, ele não tinha tempo de parar. Sem dúvida um simples passo e o plano letal era perfeito. Não precisei respirar fundo, não me senti nervosa, a decisão estava tomada, meio sem querer havia muitos dias, mas nunca havia elaborado um plano, nunca havia escolhido um método. Eu tinha 13 anos, de que outro jeito seria? Um ônibus no caminho da escola para casa, o óbvio, o simples.
Hoje percebo que aquilo foi grave, que eu tive intenção real de me matar.
Hoje percebo que quando descobri, por raciocínio lógico, que se não digerisse não engordaria e decidi provocar vômito depois de comer fartamente, algo não estava bem comigo.
Hoje tenho certeza de que não era normal, bonito nem saudável usar o estilete do colega para fazer cortes superficiais nos antebraços.
Passava horas seguidas sentada no chão chorando. Mas isso sim, eu percebi, naquela idade, que não era normal. Eu não conseguia parar, não conseguia me sentir menos triste. Muita tristeza. Toda a tristeza do mundo, uma tristeza tão forte, tão funda, tão dura, tão pesada... Tanta tristeza que dói. Ainda dói. Lembro de como doía.
Nunca mais me senti assim.
Tive dias de tristeza, de perda e de luto. Tive dias de vergonha, de derrota e de saudade. No entanto, nunca mais me senti assim, daquele jeito.
Eu tinha 13 anos, levantei o pé direito e o levei à frente. Mas antes de dar o passo definitivo, imaginei que talvez o motorista do ônibus me visse, tentasse parar, tentasse desviar. Imaginei o ônibus tombando, pessoas machucadas, desespero e gritos. Por um momento, parei o pé e percebi que meu plano poderia falhar fatalmente e poderia causar um mal enorme a muita gente. Baixei a cabeça, aí sim suspirei fundo e voltei para casa. Era preciso muita coragem para simplesmente decidir não mudar nada.